Viagem A Prisão Do Inferno 1

Viagem A Prisão Do Inferno

Como o Billy Hayes de O Expresso da meia-noite, um dia o canário Clemente estourou, pôs-se a arrancar furiosamente uma tubulação, terminou pela cela de castigo e ali se colocou fogo vivo. Devido à sua doença, o andaluz Borja precisava de insulina. A pediu ativa e passiva.

Ninguém se estabelecia. Uma manhã amanheceu morto pela cela compartilhada. O velho Marcelino tinha um câncer de garganta, crescente e feioso, como todas essas manchas que estamos vendo no teto. Quando quiseram perguntar, imediatamente não abriu mais a boca.

E, logo após, está o caso inenarrable de Jonathan Perez, a história louca de um cara alicantino de trinta e cinco anos -alguns dias antes de sair, ganhou um potente impacto pela cabeça e morreu desnucado. Faleceu em vinte e oito de novembro de 2014. Levava quase três meses enterrado no momento em que, a 16 de fevereiro, as autoridades peruanas puseram o broche surreal de aprovar a sua extradição para que enfim viesse para Portugal. Ei, posso comentar contigo uma etapa?

Vale. Assim não me drogo durante esse tempo. O mundo entrou de navegação anônima, para a prisão de Ancón II não apenas pra revelar como morrem os presos espanhóis em Lima. Mas, fundamentalmente, para mencionar como vivem. Os entrecomillados nesta crônica estão escritos puxando de memória, com uma caligrafia de emergência.

  • 3 Superintendência de Telecomunicações (SUPERTEL)
  • Fotografia e filme subaquático
  • 2 anos
  • Comotti, Giovanni: A música pela cultura grega e romana. Madrid: Turner, 1986
  • Dave O’Donnell: engenharia trompa
  • Re: D
  • Reduz a tv e algumas actividades sedentárias, a menos de duas horas por dia
  • Existem sapatos com solas duplas para aqueles que desejam receber um tanto de altura

” Porque, após levar um par de horas a trabalhar dentro, inúmeros funcionários de prisões foram alertados por outros reclusos estrangeiros e nos pediram -gentilmente – se a arrancar-lhe várias folhas do caderno. Nas linhas que seguem não aparece nenhum nome respectivo, nenhum detalhe que comprometa a dos entrevistados. A última vez que isso ocorreu (o exótico programa Presos Da Sexta), Jesus Garcia -alias Pinto, 22 anos, acabou sendo punido severamente e tentou tirar a vida. Dos 327 espanhóis que há presos no Peru, em torno de duzentos estão entre estes muros em condições infrahumanas, a imensa maioria por fazer de mulas da droga fugindo da decadência econômica.

Nós escolhemos entrar no módulo 4, pavilhão 3A, onde há uma trintena de nossos cidadãos. Para aceder é obrigatório retirar os cordões dos sapatos e o cinto. Deixar o passaporte. Não se poderá conduzir uma peça de roupa de cor preta: os carcereiros temem que possa ser utilizada para uma fuga noturna.

nesse deserto bem como é domingo, dia de visita de familiares e amigos. Há um recinto festivo à entrada. O que não obsta pra que esqueçamos o que esse recinto representa. Quando entramos, todos estão explicando disso no pátio: ontem, segunda-feira, o mexicano Carlos Eduardo Pildrán suicidou-se no pavilhão 2B. Rebanándose seu respectivo pescoço.

Os corredores com seis células cada um. Até oito presos por cela, alguns sem colchão. Um quintal do tamanho de um pequeno campo de futebol de salão. Uma mesa de ping-pong. Um aparelho pra fazer musculação. Uma fileira de grades.

E todo o tempo do mundo para escavar em si mesmo. Uma vez lá dentro, a primeira coisa que chama a atenção são quatro coisas: o vaguear de homens famélicos, as olhadas furtivas, as condições de higiene e, claro, os pés. Nos conta um português descalço o que lhe resta muita condenação a respeito de uma poça amarela: “No inverno dormia com as chinelos colocados por duas razões: por causa de eu estava com gelado e pra que eu não as assaltar coisas. Agora agora nem tenho”. Tudo se paga e tudo se vende. Tudo é negociado e tudo se arrisca. Tudo se carrega com cordoaria e tudo pende de um fio: uma pessoa tira de mais um dia e você cair, como quando lhe cortarem as cordas a um pierrot. Se quiser um tupper para ingerir, o compras.